Artaxias IV ou Artashir IV, que também é conhecido como Artaxias, Artashes, Ardases, Ardasir e Artases (armênio: Արտաշես, Artashes), foi um rei armênio vassalo do Império Sassânida de 422 até 428. Artaxias IV foi o último rei da dinastia dos Arsácidas e o último rei da Armênia na Antiguidade. Artaxias IV era filho do rei Vramshapuh (392-417) e sobrinho do rei Khosrov IV (387-392 e 417-718), a quem sucedeu. Artaxias IV nasceu em 405 e tinha 17 anos quando ascendeu ao trono. A identidade de sua mãe é desconhecida. Ela pode ter sido a rainha consorte de Vramshapuh ou uma mulher de seu harém. Artaxias IV nasceu e cresceu na Armênia e pouco se sabe sobre sua vida, antes de sua realeza.
A Armênia (Persarmênia) no reinado de Artaxias IV |
O antigo reino da Armênia foi dividido em dois reinos distintos em 387 d.C. estando a parte ocidental sob suserania do Império Bizantino (romano oriental) e a oriental sob a do Império Sassânida (persa). Com a morte do rei Arsaces III em 389, o reino ocidental foi incorporado ao Império Bizantino e transformado em província. O reino oriental seguiu sob o governo da dinastia dos Arsácidas tutelados pelos reis persas. Durante o reinado de Vramshapuh (392 – 417) houve um intenso movimento cristão religioso e cultural que eclodiu com a criação do alfabeto armênio em 405 e foi o último lampejo de glória do reino armênio na Antiguidade. Sahak Partev, catholicos (patriarca) da Igreja Armênia, visitou a corte sassânida e solicitou ao rei Yazdegerd I a liberação de Khosrov IV, tio de Arsaces, do seu exílio político e sua restauração ao trono armênio, no que foi atendido. Porém o segundo reinado de Khosrov IV foi curto (cerca de um ano) uma vez que ele morreu em 418. Os nakharars (nobres feudais) assumiram interinamente a administração do reino.
Guerreiros armênios |
Um Reino Sem Rei
Por vários anos após a sua ascensão o rei sassânida Yazdegerd I tinha sido tolerante com os cristãos e relativamente duro contra os nobres persas e os magos (sacerdotes do zoroastrismo, religião oficial dos Sassânidas). As igrejas da Assíria, assim como as da Armênia, da Ibéria Caucasiana e da Albânia Caucasiana tinham seus governos autônomos, com um chefe supremo local, o catholicos (patriarca). Mas quando, em 418, um bispo assírio fanático, Abda, ateou fogo em um templo zoroastriano em Susã, capital do Elam, o rei voltou-se contra os cristãos e os perseguiu. Em nítido contraste com sua amigável atitude anterior, ele agora parecia resolvido a acabar com o cristianismo e visando realizar este propósito na Armênia, ele nomeou seu próprio filho, Shahpur, como governador do país em 419. Quando Yazdegerd I foi assassinato em 421, Shahpur voltou para casa para reivindicar o trono, mas ele também foi morto por adversários. Bahram V, outro filho de Yazdegerd I, assumiu o trono sassânida e as hostilidades contra o Império Romano e a perseguição dos cristãos foram intensificadas. Romanos e persas voltaram a se enfrentar nas terras armênias. A expedição persa na Armênia esteve sob o comando de Mihr-Nerseh, que era um general capaz e hábil diplomata, porém ele foi derrotado pelos romanos em Arzanen. Depois de alguns movimentos indecisos, as operações foram suspensas em 422, sendo assinado um tratado de paz, chamado de Tratado dos Cem Anos, nos termos do qual, por um período de cem anos, os persas concediam plena liberdade religiosa para os cristãos em suas terras, enquanto romanos prometiam os mesmos direitos para os devotos de Zoroastro dentro do Império Romano. No espírito deste tratado, Bahram V procurou aplacar os armênios nomeando Artaxias, então com dezessete anos, como o novo rei armênio. O catholicos Sahak tomara a iniciativa e enviara os nobres Vardan Mamikonian e Smbat Bagratuni III à corte sassânida. Embora jovem, Artaxias era da casa dos Arsácidas, que governava a Armênia há mais de trezentos anos, e filho do estimado rei Vramshapuh.
Bandeira dos Arsácidas, dinastia a que pertencia Artaxias IV |
Reino Dividido
Embora Artaxias IV tivesse o influente apoio do catholicos Sahak e fosse reconhecido pelos nakharars como seu rei, as tendências anárquicas dos nobres estavam além de seu controle. Os principais membros da nobreza logo retomaram suas intrigas sob o pretexto de desgostarem dos vícios juvenis do rei. O feudalismo dos nakharars, a antiga fraqueza que assediava a unidade do país e que a monarquia nunca conseguira esmagar, voltou a tumultuar o que restara do antigo reino da Armênia. Um rei armênio era reconhecido pelos nobres como seu chefe supremo; ante sua convocação, os nakharars deveriam reunir suas forças em situações de emergência. Esses nobres eram seus vassalos, mesmo quando a Armênia estava inteiramente em vassalagem a um ou outro império. Quando o monarca era poderoso o suficiente, sua vontade era a lei, e a vida dos nobres estava em suas mãos; um nakharar rebelde poderia ser punido com a morte ou a perda da totalidade ou de parte dos seus bens. Porém, devido à sua juventude e à fraqueza de caráter, Artaxias IV foi incapaz de lidar com essa aristocracia intratável. Sahak apelou várias vezes aos nakharars para que respeitassem a autoridade do rei como chefe supremo, para cooperar com ele e ser seu aliado, mas esses apelos foram em vão.
O Fim do Reino da Armênia
O Fim do Reino da Armênia
Não dando nenhuma atenção ao sábio argumento de Sahak de que "um cordeiro doente é preferível a um lobo robusto", os nakharars, cuja confiança tanto no rei e quanto na monarquia diminuiu ao ponto deles preferirem governar seus feudos diretamente debaixo da autoridade dos Sassânidas, solicitaram a deposição de Artaxias IV ao rei Bahram V. Artaxias e Sahak foram convocados pelo rei a Ctesifonte, a capital persa. Os argumentos de Sahak foram inúteis e o rei sassânida privou a Artaxias de seu título e poder régios em 428. A Armênia foi anexada e se tornou uma satrápia do Império Persa Sassânida. O persa Veh Mihr Shapur foi colocado marzban da Armênia. Um marzban é um “governador de fronteira”, semelhante aos antigos margraves e marqueses europeus. Sahak foi deposto do ministério de catholicos e em seu lugar foi posto um tal Surmak, armênio pró-sassânida. O destino de Artaxias IV é desconhecido após sua deposição. Com a queda de Artaxias IV, a realeza da dinastia armênia dos Arsácidas cessou após mais de trezentos anos de governo. A corte armênia havia tido seu esplendor, às vezes, semelhante às sofisticadas e ritualísticas cortes dos reis medos e persas com paramentos e serviços de mesa luxuosos, vestes coloridas pesadamente bordadas em ouro e prata e cravejadas de pedras preciosas; cerimônias altamente formais. “Mas tudo isso, através da recalcitrância da nobreza armênia, já tinha chegado ao fim”, como conclui o historiador Vahan M. Kurkijian. Extingui-se assim o reino armênio na Antiguidade após quase mil anos de existência. O reino da Armênia ressurgirá séculos depois, na Idade Média, com a dinastia dos Bagratuni.
A Armênia após a deposição de Artaxias IV: tanto do lado romano como lado sassânida é uma província |
FONTES:
http://en.wikipedia.org/wiki/Artaxias_IV
http://fr.wikipedia.org/wiki/Artaxias_IV_d%27Arm%C3%A9nie
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Gazetteer/Places/Asia/Armenia/_Texts/KURARM/19*.html
http://fr.wikipedia.org/wiki/Veh_Mihr_Chapour
http://www.armenica.org/cgi-bin/armenica.cgi?936325130052865;=1=3==Armenia==1=3=AAA
http://en.wikipedia.org/wiki/Military_history_of_Armenia