Pap |
Pap (armênio: Պապ), também conhecido pelo nome greco-latino Papas, foi rei arsácida da Armênia de 370 até 374 d.C. Em seu reinado Pap é lembrado pelo notório envenenamento do catholicos (patriarca) da Igreja da Armênia, Nerses I. Pap é também um personagem da tragédia Nerses, o Grande, Patrono da Armênia escrito em 1857, pelo armênio anatólico Sargis Vanadetsi também conhecido como Sargis Mirzayan, ator, dramaturgo e editor do século XIX. Pap era o filho do rei Arsaces II (Arshak II) e sua esposa Pharantzem, que foi sua terceira esposa conhecida. Arsaces II tinha um filho, Anob, fruto de uma união anterior a sua ascensão ao trono, cujo nome da mãe não se sabe. Com a rainha Olímpias, Arsaces II não teve filhos sendo Pap o único filho conhecido que lhe nasceu durante seu reinado na Armênia. O pai do Pap foi rei da Armênia de 350 até 368. Ele nasceu e cresceu na Armênia e pouco se sabe sobre sua vida antes de ser rei. O historiador armênio do século V, Fausto de Bizâncio, em sua História dos Armênios (Livro IV, Capítulo 15), afirma que os pais de Pap o nutriram bem durante sua infância e, quando ele chegou à puberdade, ele tornou-se um jovem robusto. O nome Pap é uma referência a um certo Pap que fora líder da Igreja Armênia em 348 que era um parente pelo lado paterno e o primeiro filho de São Husik, que foi o avô de São Nerses I.
Armênia Sitiada
Durante a invasão do rei persa Sapor II ao reino da Armênia, Pharantzem e Pap se refugiaram, junto com o tesouro armênio, na fortaleza de Artogerassa (Artakers) defendida por uma tropa de azats (cavaleiros da pequena nobreza armênia). Segundo Amiano Marcelino, historiador romano, a força de invasão persa foi comandada por dois armênios desertores, Cylax (Glak ou Zig) e Artabanes (Karen). A intenção de Sapor II era substituir a monarquia armênia, então na mão da dinastia dos Arsácidas, por uma diarquia de naxarars (nobres feudais), não arsácida, mas ainda assim armênia. Fausto de Bizâncio em sua História também menciona dois naxarars armênios, Meruzhan Artsruni e Vahan Mamikonian em posições de liderança sob a sua soberania Sapor II, bem como Zik e Karen que portavam títulos persas de nobreza. Isto também implica que Sapor II pode ter a intenção de combinar a administração persa direta (Zik e Karen) com a dos naxarars (Artsruni e Mamikonian). Durante o cerco de Artogerassa, Pharantzem, esposa de Arsaces II, apelou para Cylax e Artabanes em nome de seu marido. Eles, que haviam se voltado para a causa dos Arsácidas, arquitetaram a fuga de Pap para território romano. Durante a guerra romano-persa, o imperador Juliano morreu em combate em 363. Seu sucessor, Joviano, fez um tratado humilhante com o rei Sapor II no qual cedia grandes domínios romanos no Oriente e se comprometia em não mais ajudar os armênios. Posteriormente, Flávio Valente, imperador da porção oriental do Império Romano, volta a concentrar-se nas questões orientais e na Armênia. Ele prometeu a delegação armênia chefiada por Mushegh Mamikonian que defenderia a Armênia dos persas.
Pap e os Romanos
O filósofo e estadista Temísitio (317-388) relatou a chegada de Pap na corte do imperador Valente em Marcianópolis (na antiga Trácia, atual Bulgária) onde ele estava passando o inverno. Valente pediu-lhe para ficar na cidade de Neocaesarea no Ponto Polemoníaco (na atual costa norte da Turquia), a 300 quilômetros da fronteira com a Armênia. Valente estava relutante em dar o título real a Pap para não violar o tratado anterior assinado por Joviano com os persas em julho de 363. Em 368, ano que seu pai se suicidou na prisão persa, Pap foi reconhecido como rei pelos romanos. Valente revogava assim o acordo de Joviano com Sapor II. Em 369, Pap voltou ao território armênio a pedido da nobreza nativa, acossada pela invasão persa. Ele foi acompanhado pelo nobre romano Terêncio e Valente despachou seu oficial Arinteu para a Armênia quando Sapor II vasculhava o país em busca de Pap, que estava escondido perto da fronteira romana em Lazica (atual Geórgia). Enquanto isso Terêncio havia restaurado a Sauromaces II ao trono da Ibéria, mas o rei nomeado pelos persas, Aspacures, manteve o controle da parte oriental do reino. Em vez de ir atrás de Pap, Sapor II concentrou seu ataque sobre a fortaleza há muito sitiada de Artogerassa que caiu no inverno de 370. O tesouro real foi capturado pelos persas e Pharantzem, estuprada e assassinada. Sapor II também começou sistematicamente a perseguir os cristãos locais, forçando uma apostasia para o zoroastrismo, religião oficial dos persas.
Região de Bagrevand, onde roamnos e armênios obtiveram uma grande vitória sobre os persas |
Pap Tagavor
Sapor II conseguiu fazer contato com Pap que ainda estava na clandestinidade e tentou convencê-lo a vir para o seu lado. Sob a influência Sapor II, Pap assassinou Cylax e Artabanes, seus antigos benfeitores, e enviou suas cabeças para o rei persa como um sinal de boa vontade, mas ainda sem uma adesão ao Império Sassânida. Na primavera de 370 Sapor II preparou uma invasão maciça à Armênia, que foi realizada na primavera de 371. Os generais de Valente, Trajano e Vadomário enfrentaram a força persa na Armênia em Bagrevand não muito longe da aldeia chamada Dzirav e se saíram vitoriosos. Fausto de Bizâncio dá um considerável crédito por essa vitória ao sparapet (general) armênio Mushegh Mamikonian. Os historiadores Moisés de Chorene (armênio) e Amiano Marcelino (romano) observaram que os generais de Valente não participaram ativamente na batalha, mas estavam envolvidos na proteção de Pap. A Batalha de Bagrevand foi uma vitória decisiva para o exército romano-armênio. Os tradicionais clãs feudais armênios, dos Mamikonians, Kamsarakans e Bagrátidas foram especialmente notáveis na peleja. Meruzhan Artsruni, nobre armênio aliado dos persas e muitos de seus seguidores pereceram. O rei Pap, que acompanhado do catholicos Nerses I assistiu a luta da colina de Npat, recuperou o trono novamente para a dinastia dos Arsácidas (Arshakuni). O comando militar do país foi confiado a Mushegh Mamikonian, a quem Trajano, o comandante romano do Oriente, deu apoio total. Mushegh conseguiu sujeitar os turbulentos nobres armênios. Durante as batalhas seguintes mais territórios armênios foram recuperados dos persas, incluindo as regiões de Arzanene e Corduene que foram cedidas aos persas por Joviano em 363. Até o final do verão Sapor II retirou-se para sua capital em Ctesifonte e Valente voltou a Antioquia na Síria. O rei persa, ocupado com os ataques do império dos Kushan na banda oriental de seu império, foi incapaz de enfrentar a massiva intervenção romana. Pap foi reconhecido como tagavor (rei) pelo catholicos Nerses I.
Regiões históricas da Grande Armênia: em destaque a região de Aghdznik, a antiga Arzanene |
Pap se casou com uma nobre mulher armênia chamada Zarmandukht, que através do casamento tornou-se rainha da Armênia. Zarmandukht deu a Pap dois filhos: Arsaces III (Arshak III) e Vologeses. Pap, como seu pai, aderiu firmemente ao cristianismo ariano (que negava a divindade de Cristo). Ele estava lutando para governar um reino que foi recentemente desmantelado pelos persas. Suas ações para manter um controle cerrado de sua autoridade e poder levaram a sua queda. Pap, ainda muito jovem, tinha que lidar com a suserania dos romanos, a ira dos persas e a constante turbulência dos nobres armênios além das delicadas questões entre Igreja e Estado. Sua vida de devassidão e luxúria fez com que levasse duras reprimendas de Nerses I. Contrariado, Pap envenenou Nerses I em 25 de julho de 373. O religioso, além de ser o popular líder da Igreja Armênia, era um aliado muito próximo de Roma (embora contestasse o arianismo do imperador Valente). O envenenamento de Nerses foi uma das medidas que Pap tomou para conter o excessivo poder da Igreja, que incluiu o confisco de ricas propriedades que foram anexadas à Igreja Armênia. O assassinato de Nerses I por ordem de Pap nos chegou pela historiografia armênia de cunho religioso que, pelas medidas contrárias ao cristianismo institucional efetivadas pelo rei armênio, retratou Pap como endemoninhado e anticristão. Cronistas da época, no entanto, atestam que Pap ficou profundamente magoado pela perda de seu mentor santo, e deu-lhe um funeral imponente. Pap nomeou um certo Husik como um substituto de Nerses I e enviou-o para a consagração em Cesareia. O bispo de Cesareia, Basílio, recusou-se a consagrar o candidato, mas Valente solicitou que o bispo resolvesse rapidamente a situação encontrando um novo candidato aceitável a Pap. Basílio não conseguiu fazê-lo e a Igreja de Cesareia perdeu efetivamente o seu papel tradicional de consagrar o catholicos da Armênia.
A Queda de Pap
A recusa de Pap em cooperar com Basílio irritou Valente. Além disso, Pap exigiu controle sobre Cesareia e 12 outras cidades romanas, incluindo Edessa como antigos domínios de sua família, os Arsácidas, sob o pretexto de que foram fundados por armênios. Ao mesmo tempo, Pap abertamente cortejava aliança com os persas. Percebendo o constante vacilo de seu outrora protegido, Valente decidiu executar Pap e convidou-o para uma reunião em Tarso, Cilícia. Pap chegou com uma escolta de 300 homens montados, mas rapidamente tornou-se inquieto quando ele descobriu que o Imperador não estava lá em pessoa e partiu de volta para a Armênia. Após a retirada de Pap, Terêncio enviou dois generais com scutarii (cavalaria blindada) familiarizados com o terreno local, um armênio chamado Danielus e um iberiano chamado Barzimeres, mas não conseguiram capturar Pap. Ambos os generais deram uma desculpa de que Pap tinha usado poderes mágicos para evitar a captura e usou uma nuvem escura para mascarar sua partida. Fausto em sua História também alegou que Pap estava possuído por devs (demônios), a quem fora consagrado por sua mãe quando nasceu. Isso poderia ter sido simplesmente um ataque contra as simpatias de Pap pelos arianos e pagãos. Valente então atribuiu a Trajano a missão de ganhar a confiança de Pap e assassiná-lo. Pap foi atraído para uma festa no acampamento romano de Khou em Bagrevand sob o pretexto de negociações.
Mesmo com a tentativa de intervenção de certo Gnel, senhor de Antzévatziq, Pap é assassinado pelos soldados de Trajano. Ao sinal de Trajano um homem corpulento esfaqueou o rei. Enquanto os historiadores armênios Fausto de Bizâncio e Moisés de Khorene interpretaram o assassinato de Pap como um castigo pelo assassinato de Nerses I, o romano Amiano Marcelino entendeu que a morte do jovem rei armênio foi contrária aos interesses de Roma. Aliás, Pap se mostrara leal aos romanos e rechaçava as investidas do rei persa. Marcelino traçou paralelos entre o assassinato traiçoeiro do rei dos quados, Gabínio, pelo imperador Valentiniano I e do assassinato de Pap por Valente, e também escreveu que o assassinato de Pap teria assombrado Valente antes da Batalha de Adrianópolis, em 378, na qual o imperador morreu. Os nakharars armênios ainda leais a Pap fizeram muito pouco em protesto contra o assassinato do rei por causa da grande presença do exército romano em território armênio. A nova nomeação romana de um monarca armênio foi um rei virtualmente aceito por todos: Varasdates (Varazdat). Ele, que cresceu em Roma, era da casa dos Arsácidas, sobrinho de Pap, filho de seu meio-irmão, Anob, primogêntio do rei Arsaces II. Varasdates começou a governar sob a regência de Musel Mamikonian, que era notoriamente pró-romano. Sapor II, que vinha há muito cortejando Pap para seu lado, se enfureceu quando Pap foi assassinado e um novo arsácida foi colocado no trono armênio. A Armênia continua assim ponto de disputa entre romanos e persas.
A Queda de Pap
A recusa de Pap em cooperar com Basílio irritou Valente. Além disso, Pap exigiu controle sobre Cesareia e 12 outras cidades romanas, incluindo Edessa como antigos domínios de sua família, os Arsácidas, sob o pretexto de que foram fundados por armênios. Ao mesmo tempo, Pap abertamente cortejava aliança com os persas. Percebendo o constante vacilo de seu outrora protegido, Valente decidiu executar Pap e convidou-o para uma reunião em Tarso, Cilícia. Pap chegou com uma escolta de 300 homens montados, mas rapidamente tornou-se inquieto quando ele descobriu que o Imperador não estava lá em pessoa e partiu de volta para a Armênia. Após a retirada de Pap, Terêncio enviou dois generais com scutarii (cavalaria blindada) familiarizados com o terreno local, um armênio chamado Danielus e um iberiano chamado Barzimeres, mas não conseguiram capturar Pap. Ambos os generais deram uma desculpa de que Pap tinha usado poderes mágicos para evitar a captura e usou uma nuvem escura para mascarar sua partida. Fausto em sua História também alegou que Pap estava possuído por devs (demônios), a quem fora consagrado por sua mãe quando nasceu. Isso poderia ter sido simplesmente um ataque contra as simpatias de Pap pelos arianos e pagãos. Valente então atribuiu a Trajano a missão de ganhar a confiança de Pap e assassiná-lo. Pap foi atraído para uma festa no acampamento romano de Khou em Bagrevand sob o pretexto de negociações.
Legio Armeniaca: A legião romana na Armênia |
FONTES:
http://en.wikipedia.org/wiki/Pap_of_Armenia
http://www.twcenter.net/forums/showthread.php?119639-Twilight-of-the-Arsacids-An-Armenian-AAR
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Gazetteer/Places/Asia/Armenia/_Texts/KURARM/19*.html
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Gazetteer/Places/Asia/Armenia/_Texts/KURARM/19*.html
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